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ARQUITETURA E A TRANSFORMAÇÃO DO CONSUMO

Quem lembra de 2018, quando pudemos sentir a nossa dependência do petróleo durante a greve dos caminhoneiros? Foram dez dias que tornaram evidentes que vivemos em um mundo em que, na falta de combustível, também não temos o que comer. Depois, os desastres ambientais de Brumadinho e o vazamento do mesmo petróleo atingindo a costa do Nordeste. Chegamos em 2020 encarando uma nova crise por conta da covid-19, agora a nível global, trazendo à tona mais consequências das nossas atitudes no mundo e testando uma das maiores qualidades da condição humana: a adaptabilidade.


Neste artigo, que analisa e descreve como o confinamento nos impacta, indica que o processo de adaptação passa por 3 fases:


  • ansiedade: o desejo pela volta da “normalidade” e da vida que se tinha antes domina as atitudes e pensamentos das pessoas.

  • hábito: o poder do hábito começa a dar contornos de rotina às novidades vividas pelas pessoas. O desconforto começa a se tornar agradável, afastando-se da vida pré-confinamento.

  • transformação: a vida muda e dificilmente tudo voltará ao normal, e a partir desse ponto, um novo estilo de vida nasce.


Há quem defenda que o lado positivo da pandemia é que ela pode ter trazido o impulso interno que faltava para uma transformação significativa - é quando surge o incômodo que as pessoas começam a produzir pequenas mudanças até que não tenha mais volta. Foi devido à crise que começamos a observar, por exemplo, um maior incentivo ao consumo local, como forma de apoio aos pequenos produtores e empreendedores, além de ações coletivas para a troca e a doação.


Nós inclusive já conversamos aqui sobre a demanda dos consumidores estar cada vez mais forte por produtos e serviços que estejam conscientes do próprio impacto na crise climática e suas consequências para as gerações futuras. Na atual situação de #isolamentosocial em que nos encontramos, com nossos olhos voltados mais do que nunca para o entorno das nossas casas, essa reflexão e o despertar da consciência fica mais latente: quanto lixo produzimos em apenas um dia, para onde serão destinados esses resíduos (aqui em Florianópolis, a coleta seletiva de recicláveis foi suspensa temporariamente, nos fazendo observar por mais tempo o acúmulo de materiais), o que é possível ser reutilizado, é necessário que esse objeto seja descartável ou há uma alternativa mais durável, e o que não tem mais utilidade no seu contexto original mas que pode ser usado de outra maneira são perguntas passam pela nossa mente cada vez que lavamos uma máscara ou abrimos uma embalagem de delivery.


Para convidá-los a refletir um pouco sobre isso, trouxemos esse vídeo, que nos conta brevemente a história de como chegamos à forma que nos relacionamos hoje com aquilo que consumimos:



Um dos movimentos nascidos a partir dessa reflexão - o lowsumerism - indica que só será possível por fim à (auto)destruição gerada pelo consumismo com a consciência de quem consome - e a partir do conhecido mecanismo de oferta e demanda, alterar as relações entre produção e consumo, para um lado cada vez menos relacionado ao excesso que vemos hoje.


Mas e a arquitetura?


A pergunta que fica é se existe mesmo esse "consumir menos", principalmente em uma sociedade dominada por indústrias e marcas. Como ser mais consciente nas nossas escolhas? E qual o papel da arquitetura, que tem em si o viés da efemeridade das tendências estéticas, nesse contexto? O próprio lowsumerism indica que as respostas vêm em camadas e trazem pequenas tendências que levam a uma visão mais global da vida contemporânea, e nós acreditamos que elas estão diretamente conectadas à nossa velha conhecida - a #sustentabilidade.


A arquitetura de interiores sustentável é uma realidade possível, em diversos aspectos. Como falamos aqui nesse post, praticar a #sustentabilidadenaarquitetura é pensá-la não como supérflua, tendências ou modismos passageiros e descartáveis, mas como ciência indispensável para vivermos integrados ao nosso meio a ponto de nos preocuparmos como nosso modo de vida pode atingir as gerações futuras e o meio em que elas viverão.



Além disso, a pandemia de coronavírus impôs uma diversidade de novas demandas em nossas casas, que agora servem como escritórios improvisados, academias, oficinas e salas de aula, além das atividades originais que já abrigavam. E é nos apartamentos, onde todas essas funções geralmente são compactadas em um espaço limitado, que estão os desafios mais urgentes do #novomorar. A #arquiteturadeinteriores muita vezes vem carregada de imagens “perfeitas” nas revistas de design, mas os espaços são criados para se viver neles, e a arquitetura só funciona quando eles são utilizados. Com a adição de novas funções, algumas adaptações serão necessárias, e podemos começar exatamente revendo algumas prioridades.


Fazer uma seleção de objetos que você realmente aprecia na sua casa, por exemplo, pode ajudar a trazer histórias e lembranças para o dia a dia. Sempre que possível, deixe a criatividade fluir com o que você tem e crie novos usos para objetos antigos. Com espaços limitados, praticar o "menos é mais" economiza tempo, dinheiro e ainda abre espaço para apreciar o que realmente é importante pra você - mas lembre-se que o minimalismo radical também pode se tornar outro tipo de perfeição. Pequenas atitudes são mais importantes, e toda grande caminhada começa com pequenos passos. Vamos juntas?


Com carinho,

L.

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