Dia 17 de maio é comemorado o dia da #reciclagem. Vamos aproveitar a data para expandir o tema e trazer conceitos complementares a respeito da produção, do consumo e do descarte sustentável de materiais e produtos, e do seu impacto no meio ambiente.
Qualquer processo de produção começa, quase sempre, com algum tipo de matéria prima extraída do meio ambiente. Ela então é transformada em um produto acabado e quando esse produto não é mais útil, ele é descartado. A partir desse modelo, podemos identificar dois pontos críticos ambientais: primeiro, a demanda por mais recursos naturais do que encontramos na natureza; e segundo, a quantidade de resíduos e desperdício gerados no final da cadeia.
Os 3 Rs + upcycle
Os 3 Rs são a abreviação de #reduzir, #reutilizar e #reciclar. Na década de 90, o #upcycle também surgiu como complemento a esses três processos. Quando há espaço para a criatividade, essa pode ser a maneira mais fácil de reinserir um objeto na cadeia de "não-produção", ao invés de simplesmente descartá-lo. Para entendermos a diferença:
Reduzir: esse é o mais fácil de entender, pois significa simplesmente consumir menos e sem excessos. Reduzir o consumo já se tornou inclusive movimento, denominado #lowsumerism - falamos sobre isso nesse post. O consumidor, cada vez mais consciente, buscará alternativas de produtos capazes de atender às suas necessidades, mas de uma maneira menos nociva ao meio ambiente. Quando reduzimos o uso de novas matérias primas, há uma redução no consumo de energia, na poluição do ar e da água e as emissões de gases de efeito estufa.
Reutilização: consiste em utilizar várias vezes o mesmo produto, evitando o descarte generalizado. Por isso, é preferível escolher um produto feito de um material durável, ainda que o custo seja maior: a possibilidade de reuso faz com que o valor se pague após utilizá-lo várias vezes, além do custo ambiental de não gerar lixo.
Reciclagem: cria um novo produto a partir da transformação de um material que foi descartado ou que chegou ao fim de sua vida como produto. No entanto, quando processos industriais estão envolvidos nessa transformação, esse produto pode perder valor e acabar se tornando uma matéria-prima de segunda mão.
Upcycle: cria um novo ciclo de vida para o mesmo produto, dando a ele uma nova função e evitando que seja descartado. É possível simplesmente alterar seu contexto de utilização ou transformá-lo com criativade, mas sempre conservando suas características e composição.
Análise do Ciclo de Vida
Como sociedade, reproduzimos o mesmo ciclo produtivo há tempo suficiente e em tantos setores de produção capaz de gerar uma fonte alternativa de recursos abundante: nosso próprio descarte. Nesse sentido, as equipes responsáveis pelo processo de desenvolvimento desses produtos devem considerar todo o ciclo de vida daquilo que for oferecido aos consumidores. O #ciclodevida de um produto é definido como:
o conjunto de todas as etapas necessárias para que um produto cumpra sua função na cadeia de produtividade, desde seu desenvolvimento (projeto e produção), passando pela sua distribuição, uso, descarte, até o último tratamento dos materiais que o compõem para sua reutilização.
O pensamento do ciclo de vida de um produto expande o conceito de produção sustentável desde o início do processo, e inclui impactos ambientais, sociais e econômicos gerados ao longo do processo produtivo. Para o consumidor, a análise do ciclo de vida dos produtos traz informações que permitam uma #escolhamaisconsciente, podendo optar pelos menos poluentes, mais eficientes, duráveis e recicláveis.
A #AvaliaçãodoCiclodeVida (ACV) de um produto possui padrão internacional - cuidado com o greenwashing! -, e pode ser utilizada para comparar duas ou mais alternativas para a produção de um produto, por exemplo, orientando tanto na tomada de decisão do processo produtivo quanto na escolha final do consumidor.
Economia Circular
Além da ACV, um outro conceito que considera a cadeia produção e consumo sustentáveis é a #economiacircular. Como mencionamos anteriormente, nossos processos de produção partem de um sistema linear: extração - produção - consumo - descarte, também conhecido como "cradle to grave" (do berço ao túmulo). No entanto, esse sistema produtivo traz um risco iminente de esgotamento de matérias-primas e custos cada vez mais altos de extração, uma vez que o crescimento econômico depende da disponibilidade de recursos que são finitos. E o resultado disso a longo prazo é a geração de um grande volume de resíduos potencialmente tóxicos para nós e para o planeta.

Na economia circular, o próprio conceito de #lixo é revisto e os materiais e produtos são pensados a partir de um fluxo cíclico: os recursos que extraímos são mantidos por mais tempo em circulação através de cadeias produtivas integradas - "cradle to cradle" (do berço ao berço). Com isso, o destino final de um material não trata apenas do gerenciamento de resíduos (uma etapa relevante de qualquer processo produtivo), mas sim do processo de design dos produtos.
Com isso, o crescimento econômico se dissocia do consumo crescente de mais recursos naturais, e possibilita uma forma mais inteligente de aproveitamento do que já está dentro do próprio processo produtivo. A tendência é que os produtos do futuro sejam feitos de materiais já existentes no mundo e pensados para serem transformados, renovados, reciclados, compostados ou reutilizados, inclusive de forma compartilhada.
Mas e a arquitetura?
Já pararam para pensar no impacto que a mentalidade do simples descarte de produtos para substituição a cada nova moda pode ter no mundo? Nós, arquitetxs, enquanto projetistas, temos muito poder nas mãos quando falamos sobre a redução - ou não - de impactos ambientais.
Edificações duram muito tempo e, para que possamos as criar condições de #conforto necessárias para habitá-las, consumimos energia gerada a partir de combustíveis fósseis (já falamos disso aqui, lembra?) ao longo de toda sua vida útil. Nesse sentido, a adoção de técnicas de geração de #energiarenovável no próprio edifício e técnicas de #eficiênciaenergéticanaarquitetura contribuem para a gestão dos GEEs ao longo desse período de uso operação da edificação.
No entanto, quando analisamos todo o ciclo de vida de um edifício, é necessário considerar também tanto a quantidade de energia e carbono incorporados nos processos produtivos dos produtos adotados na construção - a ACV -, quanto o destino final dos resíduos gerados, seja na própria etapa de construção ou após a demolição.
Os resíduos da construção civil, conhecidos como entulho, são fragmentos ou restos de tijolo, concreto, argamassa, aço, madeira, e tudo o que é gerado no processo construtivo, de reforma, escavação ou demolição. Boa parte pode ser reaproveitada na produção de novos agregados, poupando florestas e reduzindo a extração de pedras, por exemplo.

Isso quer dizer que construir (e como construir) ou não se torna uma questão relevante. Algumas vezes, a solução de menor consumo de energia e recursos a longo prazo pode ser #reformar, transformando os ambientes construídos que já existem e extendendo a sua vida útil.
Com um estudo de #retrofit adequado, avaliando a recuperação estruturas, por exemplo, e a otimização dos sistemas para que sejam mais eficientes, podemos diminuir drasticamente os impactos ambientais da arquitetura, minimizando ou até eliminando o desperdício.
Vamos juntas?
Com carinho,
L.